11 de maio de 2009

Das coisas que a gente precisa.

Segunda-feira passada, meu computador foi diagnosticado com falência geral do processador. Ótimo momento para ele travar. Na reta final da monografia. Ótimo. Aliás, chega a ser engraçado. Mas enfim, lá foi ele para o conserto, com a promessa de sair do cti e retornar ao meu quarto na quarta-feira.
Mas isso não aconteceu. Liguei para o responsável pelo conserto do meu filhotinho, que há tão pouco tempo havia ganhado uma cirurgia plástica e tava de cara nova literalmente. Um monitor de lcd, 19 polegadas, lindo. Após a ligação soube que ele voltaria na sexta-feira.
Na quinta-feira pela manhã, me dirigi ao Centro da Cidade, para utilizar o computador da minha digníssima faculdade. E assim fiz. Após digitar coisas, modificar outras, salvei os respectivos arquivos no meu pen drive, para no dia seguinte passar tudo para o computador e assim seguir com a minha vida. Nada poderia dar errado, certo? Errado.
Na sexta-feira, no horário marcado para a chegada do tão esperado computador eu estava em casa com flores, bombons e um enorme sorriso no rosto. Pessoas haviam me ligado para saber se ele já havia chegado. Mensagens de texto foram enviadas e recebidas. E nada. Na-da.
Aquilo foi devastador. Acabou comigo.
Eram onze horas da noite quando saí de casa, peguei meu Celta prata e me dirigi à Botafogo, para afogar minhas mágoas com alguns amigos. Havia combinado de encontrá-los no Humaitá às onze e meia. Na realidade, eu havia saído com bastante antecedência, visto que o Humaitá é a dez minutos da minha residência, e mesmo assim não consegui chegar no horário marcado. Uma blitz. Uma blitz monstra. Uma blitz tão grande que não cabia no enquadramento do meu pára-brisa. Aquilo era um evento. Havia balões infláveis com os dizeres: "Lei Seca - Eu apóio", luzes piscando e muitas, muitas buzinas, que tocavam alternadamente, é claro, fazendo com que eu perguntasse a Deus por que eu não havia nascido surda. Depois de muito esperar, consegui chegar ao meu destino. Encontrei meus amigos, afoguei minhas mágoas, e voltei para buscar meu carro acreditando que a noite havia sido agradável e que as coisas ruins iriam acabar. Claro que não. Haviam arrombado meu carro, é claro. O vidro estava todo estilhaçado e havia um buraco no meio. Um buraco no meio do meu vidro.
Aquilo foi demais para mim. Abri a porta e verifiquei que meu som ainda estava ali. Firme e forte. Um pouco traumatizado, é claro. Como já esperava estava tudo revirado. Meu porta-luvas não portava mais nada, as coisas que estavam na mala, agora se encontravam no banco do carona e meus cd's estavam minuciosamente espalhados pelo chão, posso até afirmar que o Chico Buarque tentou arrancar com o carro, visto que o mesmo estava apoiado no acelerador. Comecei a recolher as coisas, embalada por inúmeros palavrões que é melhor não citar aqui, e fui checar o que estava faltando. É claro que alguma coisa tinha que estar faltando. Foi quando me dei conta de uma coisa que não estava mais entre nós. Uma coisa pequena por fora, mas grande por dentro. Exatamente 1Gb. O meu pen-drive.
O mesmo que portava com tanta segurança o meu projeto final da faculdade. O mesmo que no dia anterior havia me acompanhado a um computador desconhecido na faculdade e salvo meus arquivos modificados. O meu fiel companheiro havia sido levado, e aquilo foi a gota d'água. Por alguns minutos me transformei num monstro no meio de Botafogo. Fui dominada por um ódio que há muito tempo não sentia. Gritei palavrões que jamais havia gritado.
Xinguei o governo e senti vergonha da minha cidade. Iniciei um questionamento em voz alta a esse "Choque de Ordem", que nada ordena. Um questionamento aos impostos que são pagos por mim por possuir um carro, aos inúmeros dois reais pagos a Prefeitura toda vez que estaciono no espaço público da cidade, e no final me vi assistida pelos meus amigos e por um mendigo, que me olhava bastante assustado. Daí parei. Me despedi dos meus amigos, e voltei para casa.
Passei meu final de semana pensando nisso. Na cara assustada daquele mendigo, que me olhava com desaprovação e receio.
Hoje já é segunda-feira e meu computador ainda não chegou. Deve voltar amanhã. E eu vou terminar a minha monografia. Vou reescrever tudo. Entregar na data certa. E vou me formar. Por que, por mais que isso só pareça mais um caso dentre milhões de outros o que a gente precisa é de educação.
O rosto daquele mendigo não me engana. Exclusão digital é foda.




Pelo menos eu ainda tenho saúde.
Ainda.