6 de outubro de 2009

Provável

Garoto improvável da risada mais gostosa,
divide comigo um colchão de solteiro,
a mesa de bar e o camarim.

Me dá e me prova,
mil beijos.
Dos mais carinhosos aos mais atrevidos e
me deixa dormir no teu ombro.

Garoto improvável que desperta,
com o suspiro mais verdadeiro que já escutei.
Das suas surpresas mais improváveis,
Pra mim já não é mais surpresa, gostar de você.

20 de julho de 2009

Nó (s).

Hoje, eu vou colocar tudo o que existiu de bom,
numa caixinha e dar um nó com laço de fita.

Tô pensando em deixar um bilhete, também.
Bem detalhado.
Pra se algum dia meu corpo esquecer,
a memória não falhar.

Que é pra guardar bem guardado o que existiu.
E fechar essa porta por inteiro.

11 de maio de 2009

Das coisas que a gente precisa.

Segunda-feira passada, meu computador foi diagnosticado com falência geral do processador. Ótimo momento para ele travar. Na reta final da monografia. Ótimo. Aliás, chega a ser engraçado. Mas enfim, lá foi ele para o conserto, com a promessa de sair do cti e retornar ao meu quarto na quarta-feira.
Mas isso não aconteceu. Liguei para o responsável pelo conserto do meu filhotinho, que há tão pouco tempo havia ganhado uma cirurgia plástica e tava de cara nova literalmente. Um monitor de lcd, 19 polegadas, lindo. Após a ligação soube que ele voltaria na sexta-feira.
Na quinta-feira pela manhã, me dirigi ao Centro da Cidade, para utilizar o computador da minha digníssima faculdade. E assim fiz. Após digitar coisas, modificar outras, salvei os respectivos arquivos no meu pen drive, para no dia seguinte passar tudo para o computador e assim seguir com a minha vida. Nada poderia dar errado, certo? Errado.
Na sexta-feira, no horário marcado para a chegada do tão esperado computador eu estava em casa com flores, bombons e um enorme sorriso no rosto. Pessoas haviam me ligado para saber se ele já havia chegado. Mensagens de texto foram enviadas e recebidas. E nada. Na-da.
Aquilo foi devastador. Acabou comigo.
Eram onze horas da noite quando saí de casa, peguei meu Celta prata e me dirigi à Botafogo, para afogar minhas mágoas com alguns amigos. Havia combinado de encontrá-los no Humaitá às onze e meia. Na realidade, eu havia saído com bastante antecedência, visto que o Humaitá é a dez minutos da minha residência, e mesmo assim não consegui chegar no horário marcado. Uma blitz. Uma blitz monstra. Uma blitz tão grande que não cabia no enquadramento do meu pára-brisa. Aquilo era um evento. Havia balões infláveis com os dizeres: "Lei Seca - Eu apóio", luzes piscando e muitas, muitas buzinas, que tocavam alternadamente, é claro, fazendo com que eu perguntasse a Deus por que eu não havia nascido surda. Depois de muito esperar, consegui chegar ao meu destino. Encontrei meus amigos, afoguei minhas mágoas, e voltei para buscar meu carro acreditando que a noite havia sido agradável e que as coisas ruins iriam acabar. Claro que não. Haviam arrombado meu carro, é claro. O vidro estava todo estilhaçado e havia um buraco no meio. Um buraco no meio do meu vidro.
Aquilo foi demais para mim. Abri a porta e verifiquei que meu som ainda estava ali. Firme e forte. Um pouco traumatizado, é claro. Como já esperava estava tudo revirado. Meu porta-luvas não portava mais nada, as coisas que estavam na mala, agora se encontravam no banco do carona e meus cd's estavam minuciosamente espalhados pelo chão, posso até afirmar que o Chico Buarque tentou arrancar com o carro, visto que o mesmo estava apoiado no acelerador. Comecei a recolher as coisas, embalada por inúmeros palavrões que é melhor não citar aqui, e fui checar o que estava faltando. É claro que alguma coisa tinha que estar faltando. Foi quando me dei conta de uma coisa que não estava mais entre nós. Uma coisa pequena por fora, mas grande por dentro. Exatamente 1Gb. O meu pen-drive.
O mesmo que portava com tanta segurança o meu projeto final da faculdade. O mesmo que no dia anterior havia me acompanhado a um computador desconhecido na faculdade e salvo meus arquivos modificados. O meu fiel companheiro havia sido levado, e aquilo foi a gota d'água. Por alguns minutos me transformei num monstro no meio de Botafogo. Fui dominada por um ódio que há muito tempo não sentia. Gritei palavrões que jamais havia gritado.
Xinguei o governo e senti vergonha da minha cidade. Iniciei um questionamento em voz alta a esse "Choque de Ordem", que nada ordena. Um questionamento aos impostos que são pagos por mim por possuir um carro, aos inúmeros dois reais pagos a Prefeitura toda vez que estaciono no espaço público da cidade, e no final me vi assistida pelos meus amigos e por um mendigo, que me olhava bastante assustado. Daí parei. Me despedi dos meus amigos, e voltei para casa.
Passei meu final de semana pensando nisso. Na cara assustada daquele mendigo, que me olhava com desaprovação e receio.
Hoje já é segunda-feira e meu computador ainda não chegou. Deve voltar amanhã. E eu vou terminar a minha monografia. Vou reescrever tudo. Entregar na data certa. E vou me formar. Por que, por mais que isso só pareça mais um caso dentre milhões de outros o que a gente precisa é de educação.
O rosto daquele mendigo não me engana. Exclusão digital é foda.




Pelo menos eu ainda tenho saúde.
Ainda.

27 de abril de 2009

O menino dos olhos coloridos.

Só eu conheço o menino dos olhos coloridos.
De todas as pessoas do mundo, só eu sei quem ele é.
Talvez eu não devesse sair por aí – o ilustrando.
Ou recontando as histórias que só ele me conta.
Mas eu reconto.
Letra por letra. Sílaba por sílaba.
Reconto tudo.
Reconto tudo pra preencher o que é impossível preencher.
E depois conto pra mim mesma, do começo.
Como é bom, de todas as formas esquisitas que se pode conhecer alguém.
Só eu conhecer.
O menino dos olhos coloridos.

27 de setembro de 2008

As preferidas dela.

Era o menino que gostava de dormir com pelo menos uma parte do corpo encostada nela. qualquer que fosse. porque ela era uma nuvenzinha, como ele costumava dizer.
Era o menino mais lindo que ela conheceu. E de todas as coisas lindas que ele tinha, as mãos eram as preferidas dela. Não se sabe exatamente, mas parecia que era o jeito. De todas as coisas lindas que ele tinha, as mãos eram as preferidas dela. E de todas as noites que ela adormeceu, as melhores foram ao lado dele. Quando ela despertava no meio da madrugada, só pra conferir se ele ainda estava ali, e se pegava sorrindo um quase sorriso de saudade. A nuvenzinha estava amando, imagine só. Logo ela, que gostava de dormir com pelo menos uma parte do corpo encostada nele. E de todas as coisas lindas, ele era o preferido dela.

20 de setembro de 2008

Leve.

Levanta e vai saindo, por favor.
Vai saindo.
Leva as tuas coisas também.
Levanta, por favor. E vai saindo.
E saindo leva, vai.
As tuas coisas.
Levanta.
Vai, por favor.
Leva e vai saindo.
Por favor.
Levanta e vai.
Saindo.

19 de setembro de 2008

O gosto do cinza-chumbo.

Eu queria sentir o gosto das cores. Só pra te contar como é.
Pra tentar dentro de inúmeras metáforas, ilustrar pra você, aquilo que só eu sei sentir.
Mas parece que você não quer.
Queria te falar do gosto do azul. Do verde. E do azul-esverdeado.
Do curioso gosto do lilás. Do apimentado laranja e do amarelo sem sal. E do gosto do prata, que pipoca na boca. Estala.
Tá sendo difícil te mostrar as coisas. Mais do que eu imaginava que seria.
Tá doendo, machucando, apertando. Me apertando. Deixando minha boca com gosto do cinza-chumbo.
Eu te chamei pra colorir meu mundo. Te levei lápis de cor e giz de cera.
Você só abriu a caixa, e espalhou todos os gostos. Os bons e os ruins. Os azedos e os amargos. Os doces e os picantes. Os opostos.
Tudo meu se perdeu, e você nem reparou.